Einstein e a religião



Um jornalista pediu certa vez a Albert Einstein, o maior gênio da ciência desde Isaac Newton, que explicasse sua fórmula de sucesso. O grande pensador refletiu por um segundo e depois respondeu: “Se a é sucesso, eu diria que a fórmula é a = x + y + z, x sendo trabalho e y sendo diversão”.
“E o que é z?”, perguntou o jornalista.
“É ficar de bico calado”, respondeu ele.
O que o tornava tão querido pelos físicos, reis e rainhas e o público em geral era sua humanidade, sua generosidade e sua presença de espírito, quer estivesse defendendo a causa da paz mundial ou sondando os mistérios do universo.
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Einstein também era consultado sobre suas idéias acerca de filosofia e religião. Seu encontro com um colega contemplado com o prêmio Nobel, o místico indiano Rabindranath Tagore, em 1930, atraiu a atenção da imprensa. Formavam uma dupla interessante: Einstein, cabelos branquíssimos, e Tagore, longa e imponente barba branca. Um jornalista observou:
Era interessante vê-los juntos — Tagore, o poeta com a cabeça de pensador, e Einstein, o pensador com a cabeça de poeta. Para um observador, era como se dois planetas estivessem envolvidos num bate-papo.



Desde as suas leituras de Kant quando jovem, Einstein passara a suspeitar da filosofia tradicional, que em sua opinião muitas vezes degenerara em prestidigitação pomposa e, em última análise, simplista. Ele escreveu: “A filosofia como um todo nãost aparenta ter sido escrita com mel? Parece maravilhosa quando contemplada, mas a um segundo olhar tudo foi embora. Resta apenas uma massa indistinta”. Tagore e Einstein discordaram quanto à possibilidade de o mundo poder existir sem a existência humana. Enquanto Tagore sustentava a crença mística de que a existência humana era essencial à realidade, Einstein discordou: “O mundo, considerado sob o aspecto físico, existe a despeito da consciência humana”. Se bem que discordassem na questão da realidade física, chegaram a um consenso maior nas questões da religião e moralidade. Na área da ética, Einstein acreditava que a moralidade era definida pela humanidade, não por Deus. “A moralidade é da máxima importância — mas para nós, não para Deus”, observou ele. “Não acredito na imortalidade do indivíduo e considero a ética uma preocupação exclusivamente humana, semnenhuma autoridade sobre-humana subjacente”.


Posto que cético quanto à filosofia tradicional, Einstein mostrava um profundo respeito pelos mistérios representados pela religião, principalmente a natureza da existência. Ele escreveria: “A ciência sem religião é manca, a religião sem ciência é cega”. Também atribuiria a esse reconhecimento do mistério a fonte de toda ciência: “Todas as especulações de valor no domínio da ciência emanam de um sentimento religioso profundo”. Einstein escreveu: “A experiência mais bonita e profunda que um homem pode ter é a sensação do misterioso. É o princípio subjacente à religião, bem como a todos os esforços sérios em arte e ciência”. E concluiu: “Se há algo em mim que possa ser chamado de religioso, é a admiração ilimitada pela estrutura do mundo na medida em que a ciência consegue revelá-lo”.A afirmação mais elegante e explícita que fez sobre religião foi escrita em 1929:


Não sou ateu e não creio que possa me considerar panteísta. Estamos na situação de uma criancinha que adentra uma enorme biblioteca repleta de livros em diferentes línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros. Não sabe como. Ela não entende as línguas em que estão escritos. A criança suspeita levemente de uma ordem misteriosa na disposição dos livros, mas não sabe qual é. Esta, ao que me parece, é a atitude mesmo do ser humano mais inteligente para com Deus. Vemos um universo maravilhosamente disposto e obedecendo a certas leis, mas só temos uma tênue compreensão dessas leis. Nossas mentes limitadas não conseguem captar a força misteriosa que move as constelações. Fascina-me o panteísmo de Spinoza, mas admiro ainda mais suas contribuições ao pensamento moderno, por ser o primeiro filósofo a lidar com a alma e o corpo como um todo, não como duas coisas separadas.

Einstein costumava fazer uma distinção entre dois tipos de Deus, que muitas vezes são confundidos nas discussões sobre religião. Primeiro existe o Deus pessoal, o Deus que responde às orações, abre as águas do mar Morto, opera milagres. Trata-se do Deus da Bíblia, o Deus da intervenção. Depois existe o Deus em que Einstein acreditava, o Deus de Spinoza, o Deus que criou as leis simples e elegantes que regem o universo.

Mesmo em meio àquele circo da mídia, Einstein milagrosamente nunca perdeu seu foco, concentrando seus esforços na sondagem dessas leis do universo. Nos transatlânticos ou em longas viagens de trem, tinha disciplina suficiente para evitar distrações e concentrar-se em seu trabalho. E o que o intrigava durante aquele período era a capacidade de suas equações de esclarecer a estrutura do próprio universo.

(Michio Kaku - "O cosmo de Einstein")

Fonte: Divagações Ligeiras
Texto Autorizado

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